sexta-feira, 28 de dezembro de 2012




UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
CENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR A DISTÂNCIA
HISTÓRIA LICENCIATURA

RELATÓRIO DE VIAGEM: VISITA A CIDADE DE ARACAJU
TEMA: ARACAJU, O PROJETO MODERNIZADOR E SEUS REVEZES (1910-1930)

JOEMIA MARIA GOMES MOTA
                                                                    Aluna do curso de graduação licenciatura em História/UFS
POLO /PROPRIÁ

       A visita monitorada a cidade de Aracaju, ocorrida no dia 15 de dezembro de 2012, ministrada pelo professor Dr. Antônio Lindvaldo Sousa, coordenador da disciplina Temas de Sergipe II, assessorados pelas tutoras Andreza da Conceição Costa, Rita Leoser da Silva Andrade e Gersivalda Mendonça da Mota. O encontro com os alunos previsto para as 09:00 hs, no coreto da praça Fausto Cardoso, o objetivo principal da viagem monitorada é compreender a existência de um projeto modernizador em Aracaju e seus revezes nas primeiras décadas do século XX, tomando como fio condutor de analise personagens protagonistas desse discurso e outros que apontem as contradições desse mesmo discurso.

                                          Figura 01:  Praça Fausto Cardoso
                                          Fonte: acervo  Prof°. Antônio Lindvaldo


UM PROJETO MODERNIZADOR E URBANISTICO

       Com a fundação de Aracaju, no governo de Inácio Barbosa, em 1855, nascia a ideia de construir em Sergipe um núcleo moderno, em função de um porto que atendesse as necessidades de escoamento da produção Açucareira do Vale do Cotiguiba. A capital até o final do século XIX não consegui realizar melhoramento urbanístico, então o presidente da província Inácio Barbosa encarregou o engenheiro militar Sebastião Basílio Pirro para planejar a nova capital. O plano urbanístico de Aracaju desafiou a capacidade da engenharia da época. A cidade foi implantada em uma área de mangues, dunas, riachos lagos, areais cobertos de cajueiros, curicurizeiros e mangabeiras. As ruas de Aracaju foram traçados em ¨xadrez¨, formando 32 quarteirões de 110 metros quadrados cada um. Para a realização do alinhamento das ruas foram necessários aterros gigantescos, para isso Pirro elaborou um plano de alinhamento dentro de um quadrado de 540 braças (1.188 metros) traçando quarteirões iguais de forma quadrada com 55 braças de largura, separados por ruas de 60 palmos, contudo esse projeto levou dezenas de anos para que  o ¨Plano de Pirro¨ se tornar realidade.

                                           Figura 02: Quadrado de Pirro
                                           Fonte: acervo particular do autor
     A partir daí a capital passa apresentar uma nova fase e com um futuro promissor, dotada de serviços e inovações urbanas: embelezamento de praças; construções de prédios; água encanada e transporte com bondes puxados a burros; alargamento de ruas; inauguração de escolas. Com destaque para a inauguração da Escola federal de Aprendizes e Artífices, que funcionaria com aulas de alfaiataria e mecânica, que utilizaria a educação profissional pra a formação de trabalhadores. A frente da organização desta inauguração o médico Augusto César Leite, que além de fazer apologia a um futuro promissor, como também realiza um breve relato das dificuldades encontradas para instalação dessa escola, deixando transparecer que no início da elaboração do projeto da escola, o então governador Rodrigues Doria (1908-1911) admitia-se não ter condições em ceder o espaço físico para que a referida escola fosse implantada, com alegando muitos compromissos e a precárias condições financeiras do estado, contudo tal desculpa não conduzia com que Augusto Leite pensava e acreditava, levando ao questionamento; Será mesmo que deveria esperar um tempo de bonança para construir escolas? Elas só são frutos do progresso, do desenvolvimento econômico? Eles não seriam também o guindaste econômico.
       Augusto Cesar Leite afirmava que as ¨transformações sociais¨só ocorreriam mediante a audácia dos que acreditavam que era possível empreender mudanças, mesmo com todas as dificuldades do meio que vivia.Le se expõe numa imagem de sergipano devotado e comprometido com uma era moderna para Sergipe ou seja, sendo um representante da nova fase de progresso que acreditava começar a existir.

                                                    Figura 03: Augusto César Leite
                                                    Fonte: www.google.com


       Com o processo de urbanização e modernidade da cidade de Aracaju, a migração de homens pobres vindo do campo, em busca de melhorias de vida. O livro ¨Os Corumbas¨ de Arnando Fontes, retrata o cotidiano dos homens e mulheres pobres, a história relata a vinda de uma família composta  por sete integrantes; os pais (Josefa e Geraldo) e os cincos filhos (Rosenda, Albertina, Caçulinha, Bela e Pedro), que saem do interior para capital em busca de novos horizontes, ao se instalarem em Aracaju, o pai da família e os três filhos mais velhos se empregam na companhia sergipana de fiação (A Sergipana).As condições em que a família vive são muito difíceis. Com os graves incidentes que pouco a pouco irão abalar a família; a prisão e deportação de Pedro, único filho homem da família, após envolvimento na greve de operário; a perdição de suas duas filhas na vida, por ter tido perdido suas honras e o falecimento de Bela. O romance se encerra com o retorno de Josefa e Geraldo a Ribeira, local em que viviam antes de morar em Aracaju, onde terminariam seus últimos momentos de vida.

                                                     Figura 04: livro Os Corumbas
                                                     Fonte: www.google.com         
                                        
       Os homens pobres ocupavam as margens do quadrado de Pirro, suas condições de vida em Aracaju eram precárias, apontando outro lado da modernização defendida pela elite aracajuana. Fora do plano urbanístico nasce a outra Aracaju, Chamada ¨Cidade de Palha¨formada por camponeses pobres do interior e ex-escravos sem empregos vindos de engenhos, compostas por milhares de casebres de taipa atrás das altas dunas, sem saneamento, sem organização.Nela moravam operários, trabalhadores do comercio, empregadas domésticas, prostitutas e desempregados e os pobres migrantes do interior, e muitos desses pobres trabalhavam nas fabricas de tecidos.

                                         figura 05: IHGSE
                                         Fonte: acervo prof°. Antônio Lindvaldo

       Após o encontro na Praça Fausto Cardoso, que foi o centro do poder político-administrativo, o ponto de partida para o crescimento da cidade. No decorrer da aula o professor Antonio Lindvaldo relata a trajetória histórica das localidades, fazendo comparação por meios de fotos antigas do antes e depois de prédios e praças. O segundo encontro foi no Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe onde o professor Antonio Lindvaldo reúne os alunos e dividem tarefas em dez grupos de duplas ou trios, com o objetivo que cada grupo acompanhasse a história da modernização, através de visitação ou pesquisas sobre a tarefa escolhida. Sendo meu grupo escolhido para pesquisar e relatar sobre o cotidiano da operaria D. Antonia. Após o conhecimento das tarefas os alunos dirigiam-se a Universidade Federal de Sergipe, para que juntamente com o coordenador e tutores ocorresse os relatos de cada grupo sobre suas tarefas.


                                         Gigura 06: Eu e a Tutora Andreza Conceição
                                          Fonte: acervo particular do autor


A CLASSE OPERÁRIA


       Do final do século XIX para o inicio do século XX, o operariado era uma classe pequena, girando em torno de 4.000 pessoas, mas os números não pararam de crescer depois da virada do século. As condições de trabalho dos operários sergipanos eram ruins, pelos seguintes motivos: não existiam leis que protegessem os trabalhadores; Os salários eram baixíssimos; A jornada de trabalhos chegava há 12 horas por dia. As precárias condições de vida e de trabalho levaram a classe operaria a se organizar e lutar por direitos. Foram criadas associações como o Centro Operário Sergipano, como também diversos jornais defendiam os direitos dos trabalhadores da indústria, a exemplo de ¨Operário¨ e  ¨O Trabalho¨. 


 
                                           Figura 07: D. Antonia
                                           Fonte: acervo prof°. Antônio Lindvaldo


       As greves realizadas pelos trabalhadores sergipanos, que  na maioria eram repremidas brutalmente pela policia estadual. A repressão talvez seja a causa principal no levantamento de informações em torno do que pensavam os homens pobres ou operários de fabricas de tecidos na maioria as informações são omissas quanto a relação do cotidiano dos operários. Maria Antonia de Oliveira, Dona Antonia como era chamada por todos, inicialmente trabalhou como domestica, em seguida ingressou na ¨Sergipe Industrial¨ em meados da década de 1920. D. Antonia trabalhou nas duas fases antes e pós Thales Ferraz, permanecendo trinta anos na mesma fabrica, não sendo uma única vez despedida, diferenciando-se das operarias que não conseguiam ficar tanto tempo no mesmo trabalho. D. Antonia considerava-se diferentes das demais colegas, pois não admitia receber repreensão, assim procurava cumprir todas as suas obrigações e não aceitava participar das ägitações¨contra a fabrica.  Em sua vida fora da fabrica D. Antonia era voltada para os afazeres domésticos, frequentava as missas ou visitava doentes e, em períodos de festas juninas, participava das danças de coco. Na época que trabalhava na ¨Sergipe Industrial¨. D. Antonia residia no Santo Antonio, possuía as mesmas condições de vida das colegas de trabalho, e demais vizinhos do mesmo bairro. Morava em casa de taipa e de palha, enfrentava temporais e problemas diversos em torno de falta de saneamento e ganhava somente o suficiente para sua sobrevivência. D. Antonia mantinha-se omissa a realidade do mundo do trabalho falava pouco dos conflitos existentes na fabrica, sempre deixava claro que existia uma fabrica sem problemas e confrontos, e idealizava os seus patrões como homens bons, honestos e dedicados aos trabalhadores. Em relação aos funcionários descontentes D. Antonia afirma que quem não cumpria suas atividades não compreendia o trabalho, cometendo erros na produção e provocando os rotineiros acidentes de trabalhos. Procurando a todo o momento justificar que não houve problemas com ela, que cumpria as atividades, era dedicada, eficiente e passiva. Em descrever-se D. Antonia configurou-se no protótipo desejado por alguns segmentos sociais envolvido no discurso modernizador. Entretanto D. Antonia não era tão omissa e passiva, pois nunca deixou ser enganada por qualquer pessoa, tinha consciência de sua condição de vida e dos preconceitos existentes na época, por causa de sua condição financeira e sua cor. O operário em formação travou modos de lutas individuais nas relações diárias com colegas, patrões, policia etc. de diversas maneiras. A palavra falada era um instrumento essencial para descarregar as ofensas e as opressões e com os depoimentos dos operários, percebe-se uma memória popular viva, conflituosa. Essa memória retrata um passado não muito feliz, completo de exploração, maltratos, multas e muitas confusões. Ela contradiz a visão de ¨progresso¨, de ¨modernização¨ defendida pelo discurso modernizador. 


CONSIDERAÇÕES FINAIS


       O processo modernizador trouxe diversas conquistas para Aracaju, como é o caso das instalações das fabricas de tecidos, que representava o símbolo de desenvolvimento em Sergipe. À medida que a cidade passava pelo processo de urbanização, chamava a atenção das camadas pobres, ocorrendo à imigração de homens pobres do campo em busca de melhores condições de vida. Contudo ao chegar à cidade a realidade era outra, pois sua condições de vida não se encaixam dentro dos padrões de modernidade estabelecido pela elite do ¨Quadrado de Pirro¨. Com isso a camada pobre foi excluída, explorada e esquecida, tudo em favor da modernização aracajuana.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
SOUSA, Antônio Lindvaldo. Temas de História de Sergipe II, São Cristovão: Universidade Federal de Sergipe, CESAD, 2010.
CORRÊA, Antonio Wanderley de Melo, ANJOS, Marcos Vinicius dos, CORRÊA, Luiz Fernando de Melo. Sergipe nossa história: ensino fundamental – Aracaju: Edição 2005. 96 p. : Il.

SITES
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