UNIVERSIDADE
FEDERAL DE SERGIPE
CENTRO DE
EDUCAÇÃO SUPERIOR A DISTÂNCIA
HISTÓRIA LICENCIATURA
RELATÓRIO
DE VIAGEM: VISITA A CIDADE DE ARACAJU
TEMA:
ARACAJU, O PROJETO MODERNIZADOR E SEUS REVEZES (1910-1930)
JOEMIA
MARIA GOMES MOTA
Aluna do curso de graduação licenciatura em História/UFS
POLO
/PROPRIÁ
A visita monitorada a cidade de Aracaju,
ocorrida no dia 15 de dezembro de 2012, ministrada pelo professor Dr. Antônio
Lindvaldo Sousa, coordenador da disciplina Temas de Sergipe II, assessorados
pelas tutoras Andreza da Conceição Costa, Rita Leoser da Silva Andrade e
Gersivalda Mendonça da Mota. O encontro com os alunos previsto para as 09:00
hs, no coreto da praça Fausto Cardoso, o objetivo principal da viagem
monitorada é compreender a existência de um projeto modernizador em Aracaju e
seus revezes nas primeiras décadas do século XX, tomando como fio condutor de analise
personagens protagonistas desse discurso e outros que apontem as contradições
desse mesmo discurso.
Figura 01: Praça Fausto Cardoso
Fonte: acervo Prof°. Antônio Lindvaldo
UM
PROJETO MODERNIZADOR E URBANISTICO
Com a fundação de Aracaju, no governo de
Inácio Barbosa, em 1855, nascia a ideia de construir em Sergipe um núcleo
moderno, em função de um porto que atendesse as necessidades de escoamento da
produção Açucareira do Vale do Cotiguiba. A capital até o final do século XIX
não consegui realizar melhoramento urbanístico, então o presidente da
província Inácio Barbosa encarregou o engenheiro militar Sebastião Basílio Pirro
para planejar a nova capital. O plano urbanístico de Aracaju desafiou a
capacidade da engenharia da época. A cidade foi implantada em uma área de
mangues, dunas, riachos lagos, areais cobertos de cajueiros, curicurizeiros e
mangabeiras. As ruas de Aracaju foram traçados em ¨xadrez¨, formando 32
quarteirões de 110 metros quadrados cada um. Para a realização do alinhamento
das ruas foram necessários aterros gigantescos, para isso Pirro elaborou um
plano de alinhamento dentro de um quadrado de 540 braças (1.188 metros)
traçando quarteirões iguais de forma quadrada com 55 braças de largura,
separados por ruas de 60 palmos, contudo esse projeto levou dezenas de anos
para que o ¨Plano de Pirro¨ se tornar
realidade.
Figura 02: Quadrado de Pirro
Fonte: acervo particular do autor
A partir daí a capital passa apresentar
uma nova fase e com um futuro promissor, dotada de serviços e inovações
urbanas: embelezamento de praças; construções de prédios; água encanada e
transporte com bondes puxados a burros; alargamento de ruas; inauguração de
escolas. Com destaque para a inauguração da Escola federal de Aprendizes e
Artífices, que funcionaria com aulas de alfaiataria e mecânica, que utilizaria
a educação profissional pra a formação de trabalhadores. A frente da organização
desta inauguração o médico Augusto César Leite, que além de fazer apologia a um
futuro promissor, como também realiza um breve relato das dificuldades
encontradas para instalação dessa escola, deixando transparecer que no início
da elaboração do projeto da escola, o então governador Rodrigues Doria
(1908-1911) admitia-se não ter condições em ceder o espaço físico para que a
referida escola fosse implantada, com alegando muitos compromissos e a
precárias condições financeiras do estado, contudo tal desculpa não conduzia
com que Augusto Leite pensava e acreditava, levando ao questionamento; Será
mesmo que deveria esperar um tempo de bonança para construir escolas? Elas só
são frutos do progresso, do desenvolvimento econômico? Eles não seriam também o
guindaste econômico.
Augusto Cesar Leite afirmava que as
¨transformações sociais¨só ocorreriam mediante a audácia dos que acreditavam
que era possível empreender mudanças, mesmo com todas as dificuldades do meio
que vivia.Le se expõe numa imagem de sergipano devotado e comprometido com uma
era moderna para Sergipe ou seja, sendo um representante da nova fase de
progresso que acreditava começar a existir.
Fonte: www.google.com
Com o processo de urbanização e
modernidade da cidade de Aracaju, a migração de homens pobres vindo do campo,
em busca de melhorias de vida. O livro ¨Os Corumbas¨ de Arnando Fontes, retrata o cotidiano dos homens e mulheres pobres, a
história relata a vinda de uma família composta
por sete integrantes; os pais (Josefa e Geraldo) e os cincos filhos
(Rosenda, Albertina, Caçulinha, Bela e Pedro), que saem do interior para
capital em busca de novos horizontes, ao se instalarem em Aracaju, o pai da
família e os três filhos mais velhos se empregam na companhia sergipana de
fiação (A Sergipana).As condições em que a família vive são muito difíceis. Com
os graves incidentes que pouco a pouco irão abalar a família; a prisão e deportação
de Pedro, único filho homem da família, após envolvimento na greve de operário;
a perdição de suas duas filhas na vida, por ter tido perdido suas honras e o
falecimento de Bela. O romance se encerra com o retorno de Josefa e Geraldo a
Ribeira, local em que viviam antes de morar em Aracaju, onde terminariam seus
últimos momentos de vida.
Figura 04: livro Os Corumbas
Fonte: www.google.com
Os homens pobres ocupavam as margens do
quadrado de Pirro, suas condições de vida em Aracaju eram precárias, apontando
outro lado da modernização defendida pela elite aracajuana. Fora do plano
urbanístico nasce a outra Aracaju, Chamada ¨Cidade de Palha¨formada por
camponeses pobres do interior e ex-escravos sem empregos vindos de engenhos,
compostas por milhares de casebres de taipa atrás das altas dunas, sem
saneamento, sem organização.Nela moravam operários, trabalhadores do comercio,
empregadas domésticas, prostitutas e desempregados e os pobres migrantes do
interior, e muitos desses pobres trabalhavam nas fabricas de tecidos.
figura 05: IHGSE
Fonte: acervo prof°. Antônio Lindvaldo
Após o encontro na Praça Fausto Cardoso,
que foi o centro do poder político-administrativo, o ponto de partida para o
crescimento da cidade. No decorrer da aula o professor Antonio Lindvaldo relata
a trajetória histórica das localidades, fazendo comparação por meios de fotos
antigas do antes e depois de prédios e praças. O segundo encontro foi no
Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe onde o professor Antonio Lindvaldo
reúne os alunos e dividem tarefas em dez grupos de duplas ou trios, com o
objetivo que cada grupo acompanhasse a história da modernização, através de
visitação ou pesquisas sobre a tarefa escolhida. Sendo meu grupo escolhido para
pesquisar e relatar sobre o cotidiano da operaria D. Antonia. Após o
conhecimento das tarefas os alunos dirigiam-se a Universidade Federal de
Sergipe, para que juntamente com o coordenador e tutores ocorresse os relatos
de cada grupo sobre suas tarefas.
Gigura 06: Eu e a Tutora Andreza Conceição
Fonte: acervo particular do autor
A CLASSE OPERÁRIA
Do final do século XIX para o inicio do
século XX, o operariado era uma classe pequena, girando em torno de 4.000
pessoas, mas os números não pararam de crescer depois da virada do século. As
condições de trabalho dos operários sergipanos eram ruins, pelos seguintes
motivos: não existiam leis que protegessem os trabalhadores; Os salários eram
baixíssimos; A jornada de trabalhos chegava há 12 horas por dia. As precárias
condições de vida e de trabalho levaram a classe operaria a se organizar e
lutar por direitos. Foram criadas associações como o Centro Operário Sergipano,
como também diversos jornais defendiam os direitos dos trabalhadores da
indústria, a exemplo de ¨Operário¨ e ¨O
Trabalho¨.
Figura 07: D. Antonia
Fonte: acervo prof°. Antônio Lindvaldo
As greves realizadas pelos trabalhadores
sergipanos, que na maioria eram repremidas brutalmente pela policia estadual. A
repressão talvez seja a causa principal no levantamento de informações em torno
do que pensavam os homens pobres ou operários de fabricas de tecidos na maioria
as informações são omissas quanto a relação do cotidiano dos operários. Maria
Antonia de Oliveira, Dona Antonia como era chamada por todos, inicialmente
trabalhou como domestica, em seguida ingressou na ¨Sergipe Industrial¨ em meados
da década de 1920. D. Antonia trabalhou nas duas fases antes e pós Thales
Ferraz, permanecendo trinta anos na mesma fabrica, não sendo uma única vez
despedida, diferenciando-se das operarias que não conseguiam ficar tanto tempo
no mesmo trabalho. D. Antonia considerava-se diferentes das demais colegas,
pois não admitia receber repreensão, assim procurava cumprir todas as suas
obrigações e não aceitava participar das ägitações¨contra a fabrica. Em sua vida fora da fabrica D. Antonia era
voltada para os afazeres domésticos, frequentava as missas ou visitava doentes
e, em períodos de festas juninas, participava das danças de coco. Na época que
trabalhava na ¨Sergipe Industrial¨. D. Antonia residia no Santo Antonio,
possuía as mesmas condições de vida das colegas de trabalho, e demais vizinhos
do mesmo bairro. Morava em casa de taipa e de palha, enfrentava temporais e
problemas diversos em torno de falta de saneamento e ganhava somente o
suficiente para sua sobrevivência. D. Antonia mantinha-se omissa a realidade do
mundo do trabalho falava pouco dos conflitos existentes na fabrica, sempre
deixava claro que existia uma fabrica sem problemas e confrontos, e idealizava
os seus patrões como homens bons, honestos e dedicados aos trabalhadores. Em
relação aos funcionários descontentes D. Antonia afirma que quem não cumpria
suas atividades não compreendia o trabalho, cometendo erros na produção e
provocando os rotineiros acidentes de trabalhos. Procurando a todo o momento
justificar que não houve problemas com ela, que cumpria as atividades, era
dedicada, eficiente e passiva. Em descrever-se D. Antonia configurou-se no
protótipo desejado por alguns segmentos sociais envolvido no discurso
modernizador. Entretanto D. Antonia não era tão omissa e passiva, pois nunca deixou
ser enganada por qualquer pessoa, tinha consciência de sua condição de vida e
dos preconceitos existentes na época, por causa de sua condição financeira e
sua cor. O operário em formação travou modos de lutas individuais nas relações
diárias com colegas, patrões, policia etc. de diversas maneiras. A palavra
falada era um instrumento essencial para descarregar as ofensas e as opressões
e com os depoimentos dos operários, percebe-se uma memória popular viva,
conflituosa. Essa memória retrata um passado não muito feliz, completo de
exploração, maltratos, multas e muitas confusões. Ela contradiz a visão de
¨progresso¨, de ¨modernização¨ defendida pelo discurso modernizador.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O processo modernizador trouxe diversas
conquistas para Aracaju, como é o caso das instalações das fabricas de tecidos,
que representava o símbolo de desenvolvimento em Sergipe. À medida que a cidade
passava pelo processo de urbanização, chamava a atenção das camadas pobres,
ocorrendo à imigração de homens pobres do campo em busca de melhores condições
de vida. Contudo ao chegar à cidade a realidade era outra, pois sua condições
de vida não se encaixam dentro dos padrões de modernidade estabelecido pela
elite do ¨Quadrado de Pirro¨. Com isso a camada pobre foi excluída, explorada e
esquecida, tudo em favor da modernização aracajuana.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRAFICAS
SOUSA,
Antônio Lindvaldo. Temas de História de
Sergipe II, São Cristovão: Universidade Federal de Sergipe, CESAD, 2010.
CORRÊA,
Antonio Wanderley de Melo, ANJOS, Marcos Vinicius dos, CORRÊA, Luiz Fernando de
Melo. Sergipe nossa história: ensino
fundamental – Aracaju: Edição 2005. 96 p. : Il.
SITES
leiatrevida.blogspot.com
– visualizado no dia 25.12.2012
neritacarvalho.
blogspot.com – visualizado no dia 25.12.2012.